sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Entrevista a Lara Filipa Seixas

Olá! 
Hoje trago-vos uma entrevista com a escritora Lara Filipa Seixas. 

Lara nasceu a 4 de dezembro de 1998. É natural da Amadora, mas cresceu em Samora Correia. Escreve desde os 10 anos, com uma incurável paixão. Aos 16 anos, começou a divulgar o seu trabalho através do mundo virtual e recebeu bastantes e-mails e mensagens com comentários positivos que a inspiraram a continuar. Aos 17 anos, entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com o curso de Línguas, Literaturas e Culturas. É completamente viciada em literatura e fascinada pela psicologia e pela filosofia. Foi com 18 anos, que decidiu editar o seu primeiro livro, "Anjo Motard" que é, basicamente, a junção de algumas páginas de um diário (escrito durante o ano 2016) bastante sofrido, dirigido a um primo seu que faleceu de cancro no testículo no início do ano passado. Este livro é uma homenagem, mas também uma tentativa (falhada ou não) de tentar ajudar os leitores a perceberem o luto. 



1. Campo ou cidade? 
Campo.

2. Doce ou Salgado?
 Doce.

3. Cores escuras ou claras?
 Escuras.

4. Barulho ou silêncio? 
Silêncio, sem dúvida.

5. Ficção ou não-ficção?
Não-ficção… Acho. Não sei bem.

6. Como leitora, qual é o teu livro favorito que não é suficientemente valorizado pelo
público em geral?
O Bom Inverno de João Tordo, talvez. Há muitos livros que adoro e que, geralmente, não são suficientemente reconhecidos, mas O Bom Inverno foi muito criticado pelo público e confesso que tenho um carinho especial por ele.

7. Quais são os livros que achas que mais te influenciaram tanto como pessoa como
escritora?
 Sem dúvida, A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón, porque me fez perceber que existe um poder imenso nos livros e nas palavras e foi através dessa realização que percebi que gostaria de me tornar escritora. Outro livro, Tess of the D’Urbervilles, por me ter feito entender que há muito mais na literatura do que uma simples história. E Os Melhores Contos de Edgar Allan Poe, que me salvou a alma. Claro que há muitos outros, mas ficaria aqui uma vida inteira… 

8. Quais são as tuas maiores desilusões literárias, ou seja, os livros que achaste que ias
adorar, mas não gostaste assim tanto?
Talvez Os Filhos da Droga, foi uma grande desilusão. Por Treze Razões, também.

9. Porque decidiste escrever Anjo Motard?
Não foi uma decisão, de todo. Comecei por escrever uma carta para o meu primo, porque achei que ele precisava de força para enfrentar o cancro. Essa carta, que ele nunca leu por ter entrado em coma logo de seguida, foi apenas o princípio. Eu estava longe de imaginar que as minhas conversas com o meu primo, primeiro em relatos simples e depois em longas dissertações sobre o luto, iriam construir um livro. Chegada ao fim de um ano, sim, decidi publicá-lo. Para mim, era sobretudo uma homenagem ao grande homem que ele foi, a tudo o que ele deixou e a todas as pessoas que de alguma forma foram vitimas do cancro, direta ou indiretamente.

10. Qual foi a reação da tua família ao teu livro?
Foi, mais do que qualquer outra, de tristeza, porque se não existisse livro significaria que o meu primo estaria vivo ainda. Em alguns casos, foi um choque, noutros foi um orgulho e foi, para muitos, a oportunidade perfeita para recordar quem foi o meu primo, Pedro Gonçalves, antes do cancro.

11. O que foi mais difícil de escrever no teu livro?
A dor foi surpreendentemente fácil, especialmente porque quando escrevi não tinha em mente quem iria ler, nem sequer que iria ser lido. O facto de ser pessoal fez com que fosse fácil expressar-me. Descrever as boas lembranças fez-me chorar de caneta na mão tantas vezes, mas não por ser difícil de escrever, apenas porque era difícil lembrar. Esperei que o final fosse difícil, mas foi, antes de qualquer coisa, libertador. Talvez o mais difícil tenha sido descrever o estado do meu primo quando o fui visitar ao hospital pela primeira vez. O choque foi tremendo. Eu queria escrever aquilo, precisava de escrever aquilo, mas foi horrível. Hoje, ler essas páginas, que são dolorosamente gráficas, ainda me faz tremer e chorar.

12. O que gostarias de dizer para os teus leitores? E para os que ainda não leram o teu
livro mas estão a pensar em fazê-lo?
Não quero que peguem no meu livro e pensem que é uma leitura leve, porque está cheio de tudo o que eu fui um dia e é carregado de dor. Não quero que o deixem numa prateleira por medo de o enfrentar, porque um livro não deve ser ignorado nunca. Não quero que o esqueçam, visto que foi precisamente por isso que o publiquei, para que nunca fosse esquecido. Também não quero ser julgada ou criticada por o que quer que tenha escrito nessas páginas, porque esse diário é o que eu fui, nunca o que eu sou, e porque um livro não pode definir um escritor. Trabalhos futuros dirão aquilo de que sou capaz. E aí sim, podem julgar-me.
Serei eternamente grata a quem acredita em mim. 

Podes encontrar a Lara no instagram e no seu blog.
Muito obrigada pela entrevista, Lara! 
Qual era o autor que gostavas que eu entrevistasse?
Um beijinho grande,

18 comentários:

  1. Partilho com a autora a admiração pelo romance: A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón. Admirável!

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    1. Fico feliz por saber que tanto a obra como o autor não passam ao lado dos leitores :) Carlos Ruiz Zafón é um escritor cheio de talento e espero que esteja presente na Feira do Livro de Lisboa este ano!

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  2. Ainda não tinha ouvido falar sobre o seu livro "Anjo Motard" mas fiquei com vontade de o ler pelo assunto tão sério e tão pessoal que trata. Imagino que não tenha sido fácil viver esse período mas acredito que o livro seja uma boa forma de recordar esse ente querido. Parabéns pelo trabalho! E gostei muito da entrevista!

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    1. Sem dúvida, é uma ótima forma de recordar... Obrigada pelo comentário e espero que um dia tenha a oportunidade de o ler! Cumprimentos! :)

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  3. Não conhecia o livro. Espero que seja o primeiro de vários livros.

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  4. Obrigada pela oportunidade! É sempre um prazer partilhar o meu trabalho com amantes de livros... Estou igualmente grata pelos comentários e espero que quem quer que venha a ler o meu livro possa, de facto, entendê-lo ❤

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  5. Não conhecia o livro nem a autora. É um livro que me suscitou alguma curiosidade, abrigada pela partilha. :)

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    1. Espero que tenha a oportunidade de o ler <3 Fico feliz por, pelo menos, ter suscitado curiosidade!

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  6. Excelente entrevista. Parabéns. E muito sucesso para ambas.

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  7. Gostei bastante da entrevista e fiquei curiosa para ler. Muito sucesso

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    1. Espero que tenha a oportunidade de o ler :) Retribuo os votos de sucesso!!

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  8. Gostei da entrevista, a uma autora portuguesa. Que muitos autores portugueses sejam entrevistados, pois a Cultura portuguesa agradecerá.

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  9. Gostei de ler a entrevista, gosto sempre de conhecer novos autores.

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  10. Gostei de ler a entrevista. è muito bom fazerem a divulgação de novos autores, e portugueses melhor ainda

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